Página:De Magistro (Editora Fi).pdf/34

Wikisource, a biblioteca livre
32

De Magistro


13.Augustini - Videtur ergo tibi nisi aut docendi aut commemorandi causa non esse institutam locutionem?

14.Adeodatus - Videretur, nisi me moveret, quod, dum oramus, utique loquimur, nec tamen deum aut doceri aliquid a nobis aut commemorari fas est credere.

15.Augustini - Nescire te arbitror non ob aliud nobis praeceptum esse, ut in clausis cubiculis oremus, quo nomine significantur mentis penetralia, nisi quod deus, ut

nobis, quod cupimus,

13.Agostinho - Por conseguinte compreenderias dessa forma, que a locução se instituíria senão para ensinar ou rememorar?

14.Adeodato - Compreenderia a não ser pelo que me preocupa, que ao orarmos sobretudo falamos, porém justo não creria a Deus poder ensinar ou rememorar.

15.Agostinho - Ignoras a lei que nos prescreve não proceder de forma outra que não a nos compungir na clausura de nosso coração[1], para que a oração em nossa

mente penetre[2]. Não

  1. Agostinho não impugnou a mística pagã, ao contrário utilizou o vezo para redirecionar-lhe o foco, limitando-o a em um único e inefável Deus. De tal modo, transforma as emoções intensas da intimidade profana do cubiculum ao indicar e simbolizar que este local encontrar-se-ia no íntimo do homem, no qual sua alma estaria com o próprio Deus: Assim no meio desse grande combate que se travava no interior de minha residência interior, no qual violentamente encetara minha alma em nosso quarto íntimo, em meu coração [...] (in CONFESSIONUM LIBRI XIII — XIII.8.19). A tradução literal implicaria traduzir cubiculis por cela religiosa e, oremus por orar, no entanto neste caso Agostinho esta a referir o arrependimento e o local aonde ele se dá, o coração.
  2. Considerei a tradução de significantur mentis por em nossa mente penetre, porque esta expressão latina é correlata ao dualismo entre as faculdades de sentir e inteligir, existentes na filosofia grega e medieval, que os via como atos de faculdades essencialmente distintas e determinadas pela atuação das coisas sobre elas. Os sentidos receberiam os influxos do mundo exterior ao homem, fornecendo à inteligência os dados sensíveis, enquanto a inteligência receberia dos sentidos os dados sensíveis, submetendo-os às diversas operações intelectivas como conceituar, julgar, raciocinar, interpretar, etc.