Página:De Magistro (Editora Fi).pdf/35

Wikisource, a biblioteca livre
Santo Agostinho

33


praestet, commemorari aut doceri nostra locutione non quaerit. Qui enim loquitur, suae voluntatis signum foras dat per articulatum sonum, deus autem in ipsis rationalis animae secretis, qui homo interior vocatur, et quaerendus et deprecandus est; haec enim sua templa esse voluit. An apud apostolum non legisti: «Nescitis quia templum dei estis et spiritus dei habitat in vobis» et «in interiore homine habitare

Christum»? Nec in propheta

observastes a recomendação do profeta: Falai dentro de vossos corações e compungi-vos em vossos aposentos; oferecei sacrifícios de justiça e esperai no Senhor?[1] Senão, como poderia Deus nos ensinar ou rememorar para alcançar aquilo que pelo elóquio almejamos. Sem dúvidas, quem fala expõe signos[2] volitivos por sons articulados. A Deus se deve racionalmente no íntimo da alma procurar e suplicar, ao invocar aquele homem

interior[3], considerado como o

  1. [...] tu autem cum orabis intra in cubiculum tuum et cluso ostio tuo ora Patrem tuum in abscondito et Pater tuus qui videt in abscondito reddet tibi (MATTHAEUS 6.6).
  2. A palavra signum, no prae-medioevo, tinha vasta gama de significados: marca, sinal, efigie, imagem, insígnia, vestígio, pegada, selo, sinete, senha, e etc., abrangendo as inúmeras classes e subclasses, postuladas pelos contemporâneos da semiótica. Entre os derivados de sua raiz estão os verbos latinos signo, signare (marcar, selar, assinalar); assigno, assignare (assinar); consigno, consignare (consignar); designo, designare (designar); persigno, persignare (tomar nota de, registrar); sigilo, sigillare (selas), significo, sigpificare (dar a entender por sinais, significar) e ainda os substantivos, adjetivos e advérbios correspondentes.
  3. Definido o uno a refletir o univérsico, haveria a necessidade de atestar esta presença. Assim foi que, em Agostinho, surge a luz divina a alocar o homem interior, questão fundante da magna obra agostiniana, que se apresenta em De Magistro como uma teoria da linguagem, mas que, também podemos encontrar sua origem em uma passagem da Sagrada Escritura: "[...] para que vos conceda, segundo seu glorioso tesouro, que sejais poderosamente robustecidos pelo seu Espírito em vista do crescimento do vosso homem interior” (EPHESIOS, 3. 16).