o exame num profundo silêncio, em que João parecia de mármore para não deixar transparecer a sua angústia. Depois, pensou.
— É difícil um diagnóstico. Por enquanto vamos dar-lhe um laxativo e um pouco de quinino para combater a febre.
— Quinino! Ela tem horror ao quinino.
— Ora, João, deixa de tolices. Como queres tu combater a febre? Ela tem trinta e nove e oito décimos.
Foi-se a receitar, e como amigo da casa, ordenou a Jesuina levar a receita.
— Volto à tarde. Até logo. Não te aflijas, homem.
João ficou no quarto, tal qual tinha entrado, com o chapéu na cabeça, a sobrecasaca aberta. Era como se tivesse recebido a notícia de que o mundo ia a desaparecer. Então a sua filha doente? E grave, grave! Sim. Estava grave! A pequena no leito crescia da agitação, erguendo os braços, sacudindo a cabeça nas travesseiras. De repente, ergueu-se atirando longe as cobertas, sentou-se.
— Minha filha, que é isso?
— Já é tarde, vou vestir-me.
— Não podes; estás doente.
— Ah! quanto fogo! É um fogo de artifício. Espera. Onde estão as botinas?
— Maria! Maria! olha teu pai.
— Ah! as baratas, as aranhas. Que porção de baratas! Vamos mata-las, vamos. As botinas...
Era o delírio. Sem forças para rete-la, temendo magoa-la,