Página:Dentro da noite.djvu/133

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cadeira, gostando. Aqueles sons eram do meu tempo.

De repente, porém, quando o relógio batia uma hora, o Firmino parou bruscamente, pôs a mão no queixo.

— Não posso mais!

Logo acudiram rapazes, o dono da casa, senhoras. Era a desgraça. A nevralgia, a terrível nevralgia do Firmino rebentara. A notabilidade passava o lenço da fronte ao queixo numa ânsia raivosa. Havia dor de dentes e, principalmente, a dor de não poder continuar a ser o ídolo do grupo. As meninas, cheias de carinho, já tinham ido buscar cocaína, um palito, algodão; um dançarino trouxera o espelhinho do toucador:

— Põe isso, Firmino, a ver se passa.

— Qual! não passa... chorava o artista. E, subitamente, desapareceu da sala, arrastando os dançarinos.

Durante dez minutos o dr. Hortêncio tomou sorvete e absorveu as atenções. Eu já estava enfastiado, quando o anfitrião surgiu:

— Ora esta! E que tal, hein? Uma festa que ia correndo tão bem! Logo hoje o sr. Firmino dá para ter dores de dentes. Estraga-me a noite!

Atrás do anfitrião vinham a pouco e pouco surgindo os convidados e o interesse de gozar a noite aumentava o ódio contra o pianista, como se ele tivesse a nevralgia só para os desgostar. Aquilo não passa! É um mulato de maus dentes! E agora? Sim, e agora? Que se há de fazer? D. Julieta