Página:Dentro da noite.djvu/197

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cedo de mais. Também não fazia outra coisa agora, passava a vida amando-a; e, ela, decididamente, enfastiava-se. Tudo quanto é demais, aborrece.

Fora levada àquilo por mundanice, por cabriolice da alma, como diria a sra. de Souza Castro, titular em decadência, hoje dama de companhia. De ver as outras damas amadas por homens discretos e bem vestidos, achara aquilo smart e comprometedor, com um leve tom de crime consentido. Ir assim, no seu carro, no carro do seu marido, entregar-se à paixão do outro, do cavalheiro elegante, parecia-lhe uma nota essencial da moda, lembrava-lhe logo os romances de Paris, a psicologia passional das duquesas de alta linhagem, que às vezes tem dois, sem contar o esposo.

Era-lhe grata como se a sua existência fosse a última elegância esperada para faze-la ultra superior.

De resto custara, e muito até. Acostumada ao louvor das costureiras e dos íntimos, intimamente convencida de que onde fosse a admirariam, muito risonha e muito audaz, quem a visse naquela vertigem de diversões inventando o prazer e o «flerte», não a julgaria no fundo tão profundamente temerosa das coisas positivas...

O pobre Guilherme vivera de platonismos longo tempo. Onde ela estivesse, ele lá se achava. Na rua dava-lhe cercos para lhe tirar o chapéu, curvar-se; em casa, valsando (depois de conversar com o marido, muito seu amigo), escorria-lhe no