Página:Dentro da noite.djvu/221

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— Perdeste?

— Não, ganhei por treze. Veja você a cábula!

E Armando recebia do parceiro mil réis pela partida de bilhar. Para fazer semelhante aposta fora preciso a boa vontade do Jeremias, o principal caixeiro, que emprestara os dez tostões e durante toda a partida levara a peruar, grasnando. «Anda com isso, homem. Pois ainda não ganhaste? Olha que se perdes...». Armando suspirou, bateu com o taco no soalho.

— Vamos outra, parceiro? silvou o contendor, um sujeito lívido, de olhar desconfiado.

— Não posso. Tenho onde estar às sete.

— Quem? Você? Qual! O que você tem é medo. Um pixote com uma sorte maluca.

— Ah! filho, quem dá a sorte é Deus.

Mas o Jeremias vinha arrastando as chinelas, em mangas de camisa. E, apanhando as bolas no pano sujo de giz, a apagar um dos bicos de gás, resmungou tirânico:

— Deixa-o lá. Não lhe dês conversas. O dianho perde e ainda se põe com luxos!