Página:Dentro da noite.djvu/229

Wikisource, a biblioteca livre

formosa senhora. Ele parecia radiante, e ela tinha esse olhar amortecido que as mulheres têm quando querem saber mais alguma coisa na vida. Um perfume delicado errava à sua passagem, e quando ela ria, o seu riso animava a tristeza sombria da estação.

Armando não olhou sequer. Preocupava-o a bilheteira. Quando a viu aberta, comprou um bilhete de ida e volta para o subúrbio, correu a um vagão de segunda classe, estendeu-se refasteladamente Estava só. Ia dormir!

Pouco depois soaram campainhas. O chefe do trem acenou para o maquinista com um lanternim de vidros vermelhos e verdes, um silvo partiu, houve um ranger de ferros. O trem moveu-se, a principio devagar, depois vertiginosamente, deixando na corrida louca o renque do casario, as duas fitas dos combustores.

— Praia Formosa! grita o condutor, saltando para a plataforma.

Entram alguns indivíduos, talvez cocheiros. Falam de burros, de atrasos, de parelhas.

— Faz obséquio do seu bilhete.

Armando abre os olhos. No vagão, o diminuto número de passageiros tem um ar de sono e de fadiga. Havia gente vinda dos bailes, das tipografias, do trabalho, e muitos, também como Armando, lá se achavam apenas para passar algumas horas fora do relento. Uns vinham estirados sobre os bancos; outros apenas cochilando. Armando reconhecia-os, sem pena, indiferente.