Página:Dentro da noite.djvu/239

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- Porque não amas o amor. Lembra-te dos versos do Poeta:

Que os vossos corações aprendam a viver,

Amando o amor, amando a perfeição,

A perfeição da alma que nos traz o prazer

Supremo e a suprema ilusão!

Ela suspirou, tristemente.

- Se é assim? Que hei de eu fazer? Mas que romântico, Deus!

E todos nós, jantando nas suas pratas, escrevendo a respeito do seu talento, tínhamos aceitado o caso como definitivo. Até Irene mesmo, mostrando predileções excessivas, parecia sossegar com a esquisita calúnia e mostrava uma alegria, uma imensa satisfação na vida. De modo que aquela partida brusca, após seu último sucesso agradável numa comédia inglesa, era de desnortear. Ao saber a resolução pelo velho Azambuja na rua, eu tomara um tílburi, interessado como diante da saída de um ministro, e estava ali, interrogando-a, no meio da desordem do salão, onde havia malas, chapéus, plumas e um intenso cheiro de heliotropo.

- Mas por que partir, Irene?

- Porque é preciso.

- Uma briga com o Azambuja? Não? Aquele ataque da Suzana Serny? Também não? Então? Querem ver que afinal tem uma paixão?

Irene sorriu, no seu quimono rosa, guamecido de uma leve renda antiga.