Página:Dentro da noite.djvu/252

Wikisource, a biblioteca livre

tanto mal dele! Disse-lhe, íntimo e confidencial:

- Então, Oscar, onde estás? É por isso que te caluniam...

- Ah! tomou sorrindo, ainda falam de mim?

- Cada vez mais. Es o leitmotiv da falta de assunto. De resto há sempre na voz do povo um pouco de razão. Estou a acreditar que realmente tens um segredo. Ora, os segredos deixam-se para as mulheres e para os homens sem interesse, os homens vulgares...

Mas não tenho segredos, protestou cansado. Tenho apenas a mais estranha moléstia nervosa que ninguém sabe. Curioso, hem? Diante de mim toda a gente sente a anormalidade, outra esfera, outra vibração. Que será? Os mais espessos - e dessa espessura intelectual se faz a opinião da massa pensam logo nas degenerações normais, no centro das loucuras que é a cidade. E não é nada disso, é outra coisa - é a minha moléstia. A existência concentro-a nela, no desejo de domá-la e na irresistível vontade de satisfazê-la. Tenho estudado, tenho lido, tenho feito observações a ver se encontro outro tipo igual. Absolutamente impossível...

Tomou um gole de cock-tail com evidente prazer, sorriu mais acalmado.

- Todos pensam que é um segredo porque ninguém imagina. E eu sofro desde criança. A princípio, na mais tenra idade, apareceu como escandalosa