o. Fiquei estarrecido, com tais palpitações que sentia no pescoço a artéria bater. Já a berlinda descia lentamente, como quem dá uma volta à espera de freguês. Perto de mim, meia dúzia de catraeiros olhavam com esse ar de mordente complacência que a canalha tem a receber as fraquezas da gente da alta. Compus a fisionomia, indaguei.
- É boa aquela do carro, hem?
- É danada! respondeu um dos tipos.
- O que admira é a resistência dela! exclamou outro.
- Como resistência?
- Pois V. S. não sabe? É a mulher do carro da semana santa. Já está muito conhecida. Vem sempre naquele carro e chama os que agradam...
- E vocês vão?
- Rapaziada não respeita... ela paga bem.
- E são muitos?
- Ela só aparece na semana santa. Mas é até pela manhãzinha.
Recuei. Ali, naquele velho carro, rodando à beira das igrejas, uma Gorgona de vicio abria a fauce tragando as flores da ralé, gente que lhe servia de pasto a troco de dinheiro; naquele carro silencioso estorcia-se uma nevrose desesperada; naquela berlinda, misteriosamente, a fúria de um súcubo, a ânsia de uma diabólica fundia nos braços um bando de homens com o desespero sensual despedaçador! Oh! o vicio que se não vê! Essa criatura,