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Do diário íntimo de um revoltoso

A Goulart de Andrade

Estava tudo combinado. Era impossível falhar. Quando a lancha partiu, sem rumor, explorando a treva do oceano encapelado, ficamos entretanto nervosos. Seriam muitos? Seria um só? Ah! Se os bandidos fossem apanhados! Os nossos nervos, excedidos já por aqueles três meses de enjaulamento na baía, sob o canhoneio das fortalezas e as necessidades mais duras, começavam a dar aos pequenos fatos uma importância capital, uma importância desproporcional. Assim, ao recebermos a denuncia amiga de que um ou mais homens conseguiam a nado levar instruções aos legalistas, a explosão da nossa cólera foi tal que, vendo-a, ninguém deixaria de julgar as instruções causa única do nosso enervante estado.

Quase todos nós, paisanos levados pelas circunstâncias e as perseguições tirânicas dos sequazes do marechal àquela vida do vaso de guerra, estávamos encostados à amurada com os oficiais e o comandante