— Mr. le comandant, j 'suis français!
— Os legalistas são brasileiros. Ninguém aqui compreende línguas estrangeiras.
— Eu falo o português. Sou francês, senhores, peço explicar o fato.
— Você ainda quer explicar, hein? Que topete!
— Mas é um direito.
— Direitos para um sujeito pescado de madrugada!
— Eu exijo!... Você não exige nada; nós é que fazemos de você o que quisermos. Levem esse homem para a sala de armas, a aguardar as minhas ordens...
Os marinheiros foram levando o homem aos trancos. Nós ficamos na expectativa. O comandante, entretanto, fazia conduzir o saco à sua cabine.
— Boa noite, meus senhores.
— E o castigo, comandante?
— Ah! o castigo... já pensei. Apenas só lho direi amanhã. É preciso faze-lo passar a noite fazendo palpites. Vocês não imaginam como é interessante passar a noite imaginando várias desgraças irremediáveis, que todas elas são perfeitamente possíveis e hão de se dar algumas horas depois... Até logo mais, meus amigos.
Recolhemos. Que castigo imaginaria aquele homem refinado e distinto? Como estaria o outro, nu, na madrugada álgida, lá em cima? Dormiria? Pensaria? Pensaria na morte decerto, porque era impossível outro gênero de castigo...