— Eu devia dizer ao comandante...
O vizinho da direita dirigiu a palavra ao companheiro ao lado. Godard atirou-se para frente:
— Sim, a generosidade dos senhores...
Os convivas do outro lado nem voltaram o rosto. Godard cruzou o talher e esperou até o fim o almoço. Quando o comandante ergueu-se, foi até ele:
— Devo agradecer a sua bondade.
O comandante nem voltou o rosto. Era cômico, se não fosse atroz. Teria coragem o homem para resistir a essa humilhação sem palavras? Godard passou o dia passeando no convés. Ao jantar, a cena renovou-se. À tarde começou o clássico bombardeio de terra para os navios, dos navios para terra. Era todo o dia aquela ceifa de vidas inútil e dispendiosa. Godard parava junto de nós.
— Eu sei atirar muito bem.
Nem uma palavra. Não o ouvíamos; ninguém o percebia. À noite, reunidos para tomar o mate, Godard de novo surgiu, acompanhado do marinheiro.
— Não quero, Sr. comandante, deixar passar o dia, sem agradecer a bondade geral. Não me falam. É justo o ressentimento. Mas eu não sou adversário, sou um ganhador, que, como os condottieri, mercadeja o seu valor. Com os revoltosos, permitam a palavra, não posso mercadejar, porque pouparam a minha vida, sustentada à custa de muito risco. Estou pois às ordens...
Mas, a pouco e pouco, os oficiais tinham saído