Página:Desencantos - phantasia dramatica.djvu/28

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capricho de moça bonita e nada mais. Capricho sem exemplo.

CLARA - Dizia-me então?...

PEDRO ALVES - Dizia-lhe que, com o espírito vacilante como baixei prestes a soçobrar, eu lhe escrevia à luz do relâmpago que me fuzila n'alma aclarando as trevas que uma desgraçada paixão ai me deixa. Pedia-lhe a luz dos seus olhos sedutores para servir de guia na vida e poder encontrar sem perigo o porto de salvamento. Tal é no seu espírito a segunda edição de minha carta. As cores que nela empreguei são a fiel tradução do que senti e sinto. Está pensativa?

CLARA - Penso em que, se me fala verdade, a sua paixão é rara e nova para estes tempos.

PEDRO ALVES - Rara e muito rara; pensa que eu sou lá desses que procuram vencer pelas palavras melífluas e falsas. Sou rude, mas sincero.

CLARA - Apelemos para o tempo.

PEDRO ALVES - É um juiz tardio. Quando a sua sentença chegar, eu estarei no túmulo e será tarde.

CLARA - Vem agora com idéias fúnebres!