Página:Desencantos - phantasia dramatica.djvu/51

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menos o de me aborrecer; e privar-me de ir a esta partida, é aborrecer-me.

PEDRO ALVES - Falemos como amigos. Dizendo que desistas do teu intento, tenho dois motivos: um político e outro conjugal. Já te falei do primeiro.

CLARA - Vamos ao segundo.

PEDRO ALVES - O segundo é este. As nossas primeiras vinte e quatro horas de casamento, passaram para mim rápidas como um relâmpago. Sabes por que? Por que a nossa lua de mel não durou mais do que esse espaço. Supus que, unindo-te a mim, deixasses um pouco a vida dos passeios, dos teatros, dos bailes. Enganei-me; nada em teus hábitos; eu posso dizer não me casei para mim. Fui forçado a acompanhar-te por toda a parte, ainda que isso me custasse grande aborrecimento.

CLARA - E depois?

PEDRO ALVES - Depois, é que esperando ver-te cansada dessa vida, reparo com pesar que continuas na mesma e muito longe ainda de a deixar.

CLARA - Conclusão: devo romper com a sociedade e voltar a alongar as suas vinte quatro horas de lua de mel, vivendo beatificamente ao lado um do outro, debaixo do teto conjugal...