Página:Desencantos - phantasia dramatica.djvu/63

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LUIZ - Vale.

PEDRO ALVES - Se não fosse o meu distrito sempre quisera ir ver essas coisas de perto.

CLARA - Mas que sacrifício! Como é possível trocar os conchegos do repouso e da quietação pelas aventuras de tão penosa viagem?

LUIZ - Se as coisas boas não se alcançassem à custa de um sacrifício, onde estaria o valor delas? O fruto maduro ao alcance da mão do bem-aventurado a quem as huris embalam, só existe no paraíso de Maomé.

CLARA - Vê-se que chega de tratar com árabes?

LUIZ - Pela comparação? Dou-lhe outra mais ortodoxa: o fruto provado por Eva custou-lhe o sacrifício do paraíso terrestre.

CLARA - Enfim, ajunte exemplo sobre exemplo, citação sobre citação, e ainda assim não me fará sair dos meus cômodos.

LUIZ - O primeiro passo é difícil. Dado ele, apodera-se da gente um furor de viajar, que eu chamarei febre de locomoção.

CLARA - Que se apaga pela saciedade?