Página:Diccionario Bibliographico Brazileiro v1.pdf/155

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Preciso dos acontecimentos que tiveram logar em Pernambuco desde a faustissima e gloriosa revolução operada felizmente na praça do Recife aos 6 do corrente mez de março, em que o generoso esforço dos nossos bravos compatriotas exterminou daquella parte do Brazil o monstro infernal da tyrannia real. 10 de março de 1817 — Inedito. O original, com assignaturas autographas do autor, e de mais alguns, todas reconhecidas a 10 de abril do anno seguinte em Pernambuco, foi apresentado na exposição de historia patria, por dona Antonia Roza de Carvalho.

O conselheiro Antonio Carlos era tambem poeta e escreveu diversas poesias, de que algumas sabiram a lume, como o seguinte

Soneto à liberdade — escripto quando, preso na cadeia da Bahia por fazer parte do conselho revolucionaria em Pernambuco, esperava sua condemnação que se dizia certa, Eil-o:

Sagrada emanação da Divindade,
Aqui do cadafalso eu te saúdo;
Nem com tormentos, com revezes mudo,
Fui teu votaria e sou, ó liberdade!

Póde a vida brutal ferocidade
Arrancar-me em tormento mais agudo;
Mas das furias do despota sanhudo
Zomba d'alma a nativa dignidade.

Livre nasci, vivi, e livre espero
Encerrar-me na fria sepultura,
Onde imperio não tem mando severo.

Nem da morte a medonha catadura
Incutir póde horror a um peito fero,
Que aos fracos tão sómente a morte é dura.

Innocencio da Silva, ou por equivoco ou por mal informado, no volume 8º, pag. 110, de seu diccionario, transcreve como feito pelo conselheiro Antonio Carlos na cadeia da Bahia, em vez do soneto acima, um outro que começa:

Elevado ao zenonico transporte
Estoico coração, alma sublime, etc.

Este soneto, porém, nem é da penna de Antonio Cados; mas sim de J. J. Pinto Vedras, que o escreveu á morte de Radcliff, dando-lhe por epigraphe essas palavras que o mesmo Radcliff escrevêra em uma parede do oratorio ao ser conduzido para o cadafalso a 17 de março de 1825: Quid mihi mors nocuit? Virtus post fata virescit. Nec sœvi gladio perit illa tyanni.


Antonio Carneiro da Rocha — Filho do major Nicolau Carneiro da Rocha e de dona Anna Soares Carneiro da Rocha, nasceu na província da Bahia, e formado em sciencias sociaes e juridicas pela faculdade do Recife, exerceu o cargo de advogado da camara municipal da capital, de que pediu exoneração em dezembro de 1882 ; foi eleito divrsas vezes deputado à assembléa de sua provincia, e á assembléa geral na