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Antonio Ferreira França, 1° — Filho de Joaquim Ferreira França e de dona Anna Ignacia de Jesus França, nasceu na cidade da Bahia a 14 de janeiro de 1771 e falieceu na mesma cidade a 9 de março de 1848:

Formado pela universidade de Coimbra em tres faculdades — de medicina, de mathematicas e de philosophia — tão brilhante intelligencia sempre demonstrou, que obteve premios em todos os exames dos tres cursos; o celebre professor de mathematicas José Monteiro da Rocha abriu sómente para elle uma aula de astronomia; foi-lhe otferecida uma cadeira na universidade, que não aceitou, declarando que seus serviços pertenciam de direito ao Brazil; e chegando li patría, foi logo nomeado lente de geometria, depois lente cathedratico da escola de medicina, e finalmente lente de grego no lyceu.

Foi deputado á constituinte brazileira, e em tres legislaturas subsequentes, tendo a gloria de sentar-se na camara entre dous filhos seus, Cornelio Ferrein França e Ernesto Ferreira França; e mais de ama vez, quando este, de imaginação ardente, de ideias liberalissimas, se exaltava na tribuna, puxando-lhe pela aba da casaca, lhe dizia: «Prudencia, senhor Ernesto! » E o moço sorria e se continha, entretanto que elle discutia com a maior franqueza e coragem sem temor as consequencias de suas palavras, como na camara mostrou quando, accusando energicamente o ministro da guerra, foi duas vezes interrompido por apupos e ameaças que lhe atiravam muitos militares das galerias, e duas vezes com a mais fria coragem, com esmagadôra indifferença, repetiu a accusação.

Já dessa coragem dera o doutor França provas, quando, travada a guerra entre as forças do general Madeira e os bahianos em 1822, entregue a capital da Bahia áquellas, e estes se retirando para o reconcavo, elle, que era vereador da eamara, e claramente dedicado á independencia, nunca abandonou seu posto.

Foi medico de sua magestade o senhor dom Pedro I; foi notavel por sua franqueza de sentimentos, por sua independencia de caracter, e originalidade até no trajar, pois vestia roupas que serviriam bem em homens muito mais altos e gordos, e só uma vez fazia o laço de sua gravata, e era quando a comprava, para depois enfial-a pela cabeça. Foi verdadeiro philosopho e sabia, e entretanto nada escreveu além, de suas

Prelecções de geometria — com que leccionava a seus alumnos. Estas prelecções não foram impressas, nem sei quem as possue hoje, Entre ellas ha uma da origem dos signaes da numeração, em que o autor mostra a maneira por que se começou a representar os numeros no algarismo romano, como no commum, assumpto que, verdade é, vem mencionado na Lingua dos calculos de Condillac, mas que este não descreveu, nem explicou.

O doutor França apresentou á assembléa muitos projectos de grande alcance, e tambem pareceres, como

Projecto da união das provincias por federação — cuja conveniencio firmara seu autor, sobretudo, na grande extensão do territorio brazileira.