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APPENDICE
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que os produz, pois brilhava cem esplendor tal, que fazia duvidar que em seu cerebro tanta luz residisse. Tão pobre que nem tinha meios com que comprar papel para escrever suas producções, deixou grande cópia de

Poesias ineditas — que, na phrase do escriptor da citada noticia, podem honrar a qualquer reputação já feita. Naturalmente haverá no Ceará quem trate de dar a lume essas poesias.

Antonio Candido Gonçalves Crespo — Natural do Rio de Janeiro, nasceu a 11 de março de 1847 e falleceu a 11 de junho de 1883 na côrte de Portugal, para onde fôra muito joven, ahi fazendo toda sua educação, naturalisando-se cidadão portuguez e casando-se com a festejada escriptora dona Maria Amalia Vaz de Carvalho.

Formado em direito pela universidade de Coimbra, foi deputado ás cortes pela India em 1879; era socio da real academia das sciencias de Lisboa, e de outras associações de lettras e escreveu:

Miniaturas: poesias. Lisboa, 187* — São pequeninos quadros de uma extraordinaria belleza artistica e de uma excessiva delicadezá e mimo, diz o seu amigo Candido de Figueiredo n'uma noticia, que delle escreveu no Correio da Europa de 27 de junho de 1883.

Nocturnos: poesias. Lisboa, 1883.

Na noticia, a que me refiro, vem reproduzidas de Gonçalves Crespo as seguintes poesias: O coveiro; Modesta; Animal bravio; Mater doloroza; Fervet amor; Numero ele intermezzo. Esta ultima poesia e outra com o titulo Quando canta a Maldonado vêm no Cancioneiro Alegre de C. Castello Branco, pags, 105 a 107. Ha porém uma poesia sua, onde não é possivel ser mais eloquente o amor filial; é a que tem por : Alguem. Nem creio que um filho possa lel-a sem commover-se . Eis a poesia:

Para alguem sou o lyrio entre os abrolhos,
E tenho as fórmas ideaes do Christo;
Para alguem sou a vida, a luz dos olhos,
E si na terra existe é porque existo.

Esse alguem que prefere ao namorado
Cantar das aves minha rude voz,
Não és tu, anjo meu idolatrado!
Nem, meus amigos, é nenhum de vós!

Quando alta noite me reclino e deito
Melancolico, triste e fatigado,
Esse alguem abre azas em meu leito,
E o meu somno deslisa, perfumado.

Chovam bençãos de Deus sobre a que chora
Por mim alem dos mares! Esse alguem
E' de meus dias a resplendente aurora,
E's tu, doce velhinha, oh! minha mãe!

Gonçalves Crespo redigiu, ainda estudante da universidade, o periodico

A Folha. Coimbra, 1869 a 1874 — sendo seus companheiros na redacção Guerra Junqueiro, João Penha e Candido de Figueiredo.