Página:Dicionário Cândido de Figueiredo (1913, v 1).djvu/24

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chímica, em visível desproporção com o que até agora, e a tal respeito, se tinha feito em trabalhos congêneres.

 

Com a Entomologia, vi que se davam factos análogos. Se eu me despreoccupasse de outras considerações e attendesse exclusivamente ao plausível intuito de registar vocábulos que não há noutros diccionários da língua, ampliaria desmedidamente a colheita que fiz naquella especialidade scientífica. Tenho effectivamente ao meu alcance os nomes de milhares de insectos, nomes que eu não registo, não só porque o bom senso e a lexicologia estabelecem limites entre um diccionário da língua e um diccionário especial, senão também, e principalmente, porque procurei dar ao meu trabalho a possível unidade e refugir ás desproporções, de que enfermam outros léxicos, nomeadamente, a meu vêr, o grande diccionário de Larousse.

E, contudo, nenhum diccionário português apresentou ainda tão copioso vocabulário entomológico, como o diccionário que estou prefaciando.

 

Em Ornithologia, consegui refundir lexicographicamente o respectivo vocabulário, não só ampliando com centenares de variedades o registo, por outros feito, das aves portuguesas, mas também dando dellas noção mais exacta, do que aquella que até hoje podiamos adquirir pelos diccionários.

E, de facto, é vulgaríssimo vermos definidos, como nomes de animaes diversos, o gaivão, o zirro, o pedreiro, o guincho, o ferreiro, o andorinhão, o arvião, o catavento; quando, afinal, eu pude verificar que todos êsses nomes, — cada qual em sua província ou localidade, — são dados á mesma ave, o gaivão, embora um ou outro sirva excepcionalmente para designar, ao mesmo tempo, outra ave.

O mesmo succede com o abibe, cujo nome varía de região para região, podendo nós, se percorrermos o país inteiro, ouvir que lhe dão os nomes de bibes, víbora, abesconhinha, avetoninha, ave-fria, gallispo, matoninha, verdizella, choradeira, galleno, coím, donzella-verde, galleirão, avecoínha, còninha; além de que, na Madeira, esta ave tem os nomes de bibi, bisbis, guizinho, melrinho-das-urzes, melrinho-da-serra, melrinho-dos-pereiros, pintasilgo-derrabado.

E mais extraordinária é ainda a megengra, que, variando o nome, segundo as localidades ou regiões, chega a reunir os seguintes nomes: chapim, cedovém, patachim, pinta-caldeiras, fradisco, fura-bugalhos, ferreiro, mezengro, parachim, cachapim, papa-abelhas, chincharavêlha, fradinho, semeia-linho, chinchinim, caldeirinha, rabilongo!

Êstes e outros factos análogos, facilmente verificáveis, dão-me a persuasão de que a parte ornithológica desta obra revela os devidos escrúpulos, o possível rigor, e sensíveis melhorias na lexicographia nacional.

O autor, neste caso e em casos semelhantes, não fala por vaidade nem faz alarde de serviços e méritos: julga cumprir um dever, historiando os seus processos e o seu trabalho, para auxiliar o leitor no conhecimento e avaliação da obra. Contraprovadas por êste as allegações e os factos, fica-lhe o pleníssimo direito de julgar a obra como lhe aprouver. Mas, antes que a julgue, requeiro que me oiça.

 

A Ichthyographia e a Conchyliologia também me facultaram importantes acquisições lexicológicas, por intermédio dos autorizados estudos de Felix Capelo, Barbosa du Bocage, Baldaque da Silva, A. Girard e muitos outros.

 

Mais importantes ainda fôram as contribuições que eu devo á Anatomia, á Medicina geral e, especialmente, á Ophtalmologia, á Psychiatria, á Homeopathia, á Electrotherapia, etc.

Os mais conspícuos especialistas nestas sciências distinguiram-me com as suas luzes, com os seus livros, com o seu carinhoso auxílio, o que me autoriza a affirmar que em nenhum diccionário português essas sciências lograram ainda tão largo espaço como na presente obra.

O mesmo se póde dizer da Radiographia, da Veterinária, da Agricultura, da Geologia, da Architectura, das indústrias fabris, da Náutica antiga e moderna, da