Página:Dicionário Cândido de Figueiredo (1913, v 1).djvu/38

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e podem sêr verbos; mas, independentemente do sentido das respectivas locuções, só o accento gráphico mostrará se são verbos ou preposições.

Quanto ás palavras agudas, toda a gente accentua com razão a vogal tónica, quando não é u ou i, nem anteposta a b, c, d, g, h, l, n, p, r, t, z: manganés, acolá, noitibó.

Como as palavras, em que a vogal da última sýllaba é i ou u, são geralmente agudas, dispensam accentuação gráphica: alli, Paris, Caramuru, alecrim... Portanto, accentuem-se as excepções: tríbu, (que melhor se escreve tribo, sem necessidade de accentuação), Vênus, Sírius, Páris, vírus...

Em regra, as palavras terminadas em r ou l, são agudas: andar, vestir, lupanar, Manuel, funil, batel... Portanto, basta accentuar as excepções: âmbar, açúcar, éther, Aníbal, amável, possível...

Tem proximamente modulação fechada a terminação eis, em geral: reis, seis, achareis, deveis... Portanto, accentúo as excepções: pastéis, coronéis, cascavéis...

Etc.

 

Não farei ponto neste árido assumpto, sem alludir a alguns casos, em que parece sêr regra a modulação fechada da vogal tónica: taes são aquelles, em que a vogal tónica é seguida de m ou n: cama, leme, Roma, arcano, pena, dono... Logo, basta que se accentuem as excepções: carbóne, tómo (verbo), mordómo...

Parece, ás vezes, que o m, embora não immediato á vogal, influe no valor della, de acôrdo com a regra citada: ermo, mormo, termo, enfermo, esmo, colmo, torresmo, resma, sesmo... Donde poderá concluir-se que estas fórmas, para bem se interpretarem, não precisam de accentuação gráphica.

Também a vogal tónica do ditongo eu tem geralmente modulação fechada, dispensando accento: meu, teu, vendeu, judeu... Basta accentuar as excepções: céu, mausoléu, mastaréu...

Por algum tempo hesitei sôbre se o o do ditongo oi é, em regra, aberto ou fechado; mas concluí, sem grande difficuldade, que é fechado: foi, moio, dois, oito, arroio, joio, soito, toiro, loiro, vassoira... Donde se infere a legitimidade e a conveniência de accentuarem as excepções: dezóito, herói, jóia, combóio, clarabóia, lóio...

Algumas vezes o accento agudo dispensa o trema, quando póde recair na vogal tónica; em vez de maïça, maíça; em vez de saïda, saída... Fóra da vogal tónica, o trema não tem substituição: saïmento, intuïção, apaülado...[1]

A pobreza de sinaes diacríticos força-nos, por vezes, a usar accentuação gráphica, que não corresponde precisamente ao valor da vogal accentuada. Assim, nas variantes ideia e idéa, usamos na segunda fórma o accento agudo, não só para indicar a vogal tónica, senão também para mostrar que essa vogal tem modulação que não é fechada nem surda, e que a mesma vogal não faz parte de um semiditongo, como em láctea, áurea, purpúrea...

Em todo caso, o accento agudo de idéa, corréa, moréa..., fórmas aliás, a que eu naturalmente prefiro ideia, correia, moreia..., tem um pouco de convencional, como nos casos seguintes: — Estabelecido, como regra, que são graves ou paroxýtonos os polysýllabos terminados em am ou em, (dizem, valem, fazem, ontem, louvam, devem), natural é que se accentuem graphicamente as excepções, (retém, contém, armazém, Santarém, também, ninguém...) Raros serão os polysýllabos terminados em om, mas, dêsses, não conheço nenhum que não seja oxýtono, dispensando-se por isso a final accentuação gráphica.

  1. A última reforma orthográphica, approvada officialmente, preceituou, por maioria de votos da Commissão reformadora, que em vez de trema, se use acento grave. É respeitável o preceito, mas achará difficuldades, que o trema não encontra.

    (Nota desta nova edição).