Página:Diva - perfil de mulher.djvu/102

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— Não consinto mais que me ame!... disse-me ela voltando as costas.

Poucos instantes depois, passou pelo braço do Barbosinha e lançou-me este desafio:

— Tire-me do braço dele, se quiser!...

Emília tinha sobretudo um zelo excessivo de sua espontaneidade. Receava ela que a menor graça feita às minhas súplicas valesse como uma prova de amor? Quando lhe pedia alguma coisa, mesmo pequena e insignificante, dessas que a moça a mais austera pode conceder a um indiferente, ela recusava sempre, e com tal firmeza, que me tirava a coragem de insistir.

Se eu me agastava, escarnecia de mim; se me resignava e esquecia sua recusa, vinha espontaneamente com uma singela mas altiva dignidade conceder-me alguma prova de afeição, tal que eu nunca me animara a esperar.

Lembra-me de uma vez que, insistindo eu por um botão de rosa, que ela tinha nos cabelos, Emília conservou-o no seu penteado por muitos dias até secar; como se achasse um prazer infinito em prolongar assim tacitamente a sua recusa. Dias depois, sem que eu lhe pedisse, de improviso, deu-me o seu retrato.

— Guarde-o para lembrar-se de mim!

Depois da noite em que estivemos juntos à borda do lago, Emília parecia evitar-me. Tinha decorrido uma semana. Eram oito horas da manhã; manhã de inverno, coberta de espessa cerração, que peneirava no ar uma garoa finíssima.

Resolvido a não ir à cidade senão mais tarde,