8E como quem o anhelito esgotava
Sobre as ondas, já salvo, inda medroso
Olha o mar perigoso em que luctava,
9O meu animo assim, que treme ancioso
Volveu-se a remirar vencido o espaço
Que homem vivo jamais passou ditoso.
10Tendo já repousado o corpo lasso,
Segui pela deserta falda avante;
Mais baixo sendo o pé firme no passo.
11Eis da subida quasi ao mesmo instante
Assoma agil e rapida panthera
Tendo a pelle por malhas cambiante.
12Não se afastava de ante mim a fera;
E em modo tal meu caminhar tolhia,
Que atraz por vezes eu tornar quizera.
13No ceu a aurora já resplendecia,
Subia o sol, dos astros rodeado,
Seus socios, quando o Amor divino um dia
14A taes primores movimento ha dado.
Me infundiam d’esta arte alma esperança
Da fera o dorso alegre e mosqueado,
15A hora amena e a quadra doce e mansa,
De um leão de repente surge o aspecto,
Que ao meu peito o pavor de novo lança.
16Que me invistisse então cuido inquieto;
Com fome e raiva atroz fronte levanta;
Tremer parece o ar ao seu conspecto.
17Eis surge Loba, que de magra espanta;
De ambições todas parecia cheia;
Foi causa a muitos de miseria tanta!
18Com tanto intensa torvação me enleia
Pelo terror, que o senho seu movia,
Que a mente á altura não subir receia.
19Como quem lucro anhela noite e dia,
Se acaso o tempo de perder lhe chega,
Rebenta em pranto e triste se excrucia,