Página:Dom João VI no Brazil, vol 1.djvu/110

Wikisource, a biblioteca livre

88 DCXM JOAO VI NO BRAZIL


Um dos indicios do natural vivo, sagaz e magnanimo do soberano e que, si nao logrou cercar-se sempre e exclusiva- mente da melhor gente, nunca deixando a sua roda de fami- liares de andar permeiada de individuos menos recommenda- veis, tampouco desdenhou systematicamente o elemento mais digno. Preferiu-o mesmo na mor parte dos casos, collocando quasi invariavelmente gente honesta nos altos postos da administragao e sabendo tao bem elevar um homem publico em quern reconhecesse superioridade de vistas ou amor ao trabalho, como distinguir um artista no qual atinasse com talento ou mesmo com aptidao. Foi seu protegido o pintor Jose Leandro, uma d essas vocagoes coloniaes sem aprendiza- gem e ate ahi sem destine quasi, que tantas vezes o retratou e em 1817 executou o reputado painel da familia real ren- dendo gragas a Virgem do Carmo, e ao pardo Jose Mauricio coube mais de uma vez deleitar com sua inspiracao de com positor o apurado ouvido real, na Capella e tambem no Pago, conforme n uma tela deliciosa o fixou Henrique Bernardelli com o seu admiravel pincel.

Pintor e musico eram ambos legitimos productos bra- zileiros, e nao os unicos de valor. Os mosteiros com seus ocios musculares, suas facilidades para estudo, seus estimulos de convivencia, tinham afagado a inclinagao pelas occupa- goes mentaes, despertada entre uma sociedade com tradi- goes de cultura trazidas do meio donde emigrara, logo que a lucta propriamente physica serenou e entrou a haver tempo para outras preoccupacoes mais altas. Nao se organizavam somente nos claustros procissoes sumptuosas ou caricatas: discutiam-se pianos scientificos e floresciam lucubragoes ar- tisticas. Os conventos do Rio abrigavam toda uma Aca- demia.

�� �