Página:Dom João VI no Brazil, vol 1.djvu/190

Wikisource, a biblioteca livre

108 POM JOAO VI NO BRAZIL

cada um no seu campo, a trindade dos mais distinctos ho- mens d Estado portuguezes do primeiro quartel do seculo XIX. Nao era absolutamente um hypocrita intrigante como Balsemao, nem um ambicioso trefego como Seabra, nem um nullo enfatuado como Ponte de Lima. Era sobretudo um homem de trabalho e essencialmente um homem de bem, dotado de bastante illustragao e de muito patriotismo, com grandes ideas para tudo, posto que um tanto confusas e com fraca relagao ao meio em que se movia ou antes aos meios de que podia langar mao, precipitado talvez, colerico, mesmo violento por prompto a ouvir lisonjas e seguir suggestoes, mas sabendo abordar intelligentemente todos os assumptos de administrate para os tratar em memorias ou de viva voz com forma fluente e conhecimento de causa. D est arte, premunido pelo estudo e na maneira apaixonada que Ihe era pessoal, procurava constantemente acertar no intuito de ele- var a nagao.

Quando ministro no estrangeiro, um pouco em desac- cordo com os habitos diplomaticos, nao havia questao para a qual nao voltasse o melhor da sua attenqao. Tudo tinha o condao de interessal-o profundamente. Nos papeis que deixou ( i ) deparam-se-nos, a par de notas de historia politica euro- pea e resumes dos conflictos diplomaticos de que Portugal foi parte, apontamentos sobre as materias mais dissemelhantes : caixas economicas, barreiras, cultivo da batata e da amoreira, fabrico da seda, problemas de bydraulica, modo de fazer pao. Preoccupavam especialmente o seu espirito as materias eco nomicas, entao na ordem do dia, debaixo da influencia de Adam Smith e de Turgot. Na patria mesmo um modelo

��(1) O Archivo particular do conde de Linhares foi em grande parte adquirido em leilao pela BM. Nac. do Rio de Janeiro.

�� �