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962 DOM JOAO VI NO BRAZIL

estimulada por um calido sentimento religioso. Dona Car- lota era devota, mas a Dom Joao pouco faltava de facto para ser no Intimo voltairiano. Basta citar em abono do seu aborrecimento ao fanatismo o despacho do marquez de Aguiar ao ministro portuguez em Roma Jose Manoel Pinto, declarando que o governo do Principe Regente de Portugal nao adheria absolutamente ao restabelecimento da Compa- nhia de Jesus feita pelo Papa Pio VII por meio da bulk Sollicitudo omnium, "porquanto a corte do Rio de Janeiro nao fora prevenida dessa deliberagao pontifical e muito tinha a queixar-se das offensas da Companhia de Jesus, contra a qual Portugal tinha tido que adoptar medidas muito ener- gicas." Propunha-se o Principe Regente conservar em pleno vigor o alvara de 3 de Setembro de 1759, que expulsara a Ordem, e as instrucgoes expedidas ao seu representante diplo- matico junto a Santa Se eram de nao acceitar discussao, nem escripta nem verbal, sobre o assumpto (i).

Nao se e impunemente do seu tempo, tempo de duvida e de negacao, ainda que Dom Joao VI tivesse crescido n uma corte de exterioridades beatas e sob a auctoridade de uma Mai e Rainha que a devogao levou a insania. Por outro lado, porem, era neto pelo pai de Dom Joao V, que fazia dos conventos de freiras o retiro dos seus atrevidos galanteios, e pela mai neto do Rei que sustentara o anticle- ricalismo de Pombal (2), certo de que Ihe aproveitava ao regalismo.

��(1) ;Despacho de 1 de Abril de 1815, no Arch, do Min. das Rel.

��d ) O .Si-. Zephyrino Brandao acaba de publkar um livro em qne prct^ndo provar ter sido Pombal um cspinto sincoramento roligioso, o (iu<> loflavia nao exclue que, em holocausto ao Estado, houvesse despe- dido nuncio, expulsado jesuitas e ate queimado o padre Malagrida.

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