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DOM JOAO Vi ING BRAZIL 963

��O filho primogenito de Dona Maria, o pranteado Principe do Brazil Dom Jose, criado ao influxo de Pom- bal, Seabra e outros bons fil hos do seculo XVIII, deixou lembranca das suas ideas adiantadas: Beckford d ellas se espantou n uma conversagao privada que tiveram nos jardins de Queluz. Dom Joao era menos illustrado mas nao seria menos intelligente que o irmao, e dava seu exacto valor a expressao tradicional de uma sociedade que era supersticiosa muito mais do que religiosa, sem esquecer que na Franga, igualmente povoada de templos e de mosteiros, congregados do Oratorio e seminaristas se tinham transformado da noite para o dia em convencionaes regicidas e desapiedados. Nao havia que fiar tudo do freio religioso.

Dom Joao comprehendia no emtanto que a Egreja, com seu corpo de tradigoes e sua disciplina moral, so Ihe podia ser util para o bom governo, a seu modo, paternal e exclusivo, de populates cujo dominio herdara com o sceptro. Por isso foi repeti damente hospede de frades e Mecenas de compo- sitores sacros, sem que n essas manifestac5es epicuristas ou artisticas se compromettesse seu livre pensar ou se desna- turasse sua tolerancia sceptica.

Aprazia-lhe o refeitorio mais do que o capitulo do mosteiro, porque n este se tratava de observancia e n aquelle se cogitava de gastronomia, e para observancia Ihe bastava a da pragmatica. Na Capella Real mais gosava com os sen- tidos do que rezava com o espirito: os andantes substituiam as meditates. Era o seu grande prazer a musica; como a gulodice o seu peccadilho, e si uma e outra revestiam a forma ecclesiastica, a razao estava em que as fazia forcadamente assumir tal.aspecto o caracter dominante da sociedade portu- gueza do tempo, freiratica e voluptuosa.

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