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1002 DOM JOAO VI NO BRAZIL

e ajudado por alguns negros e pelo feitor, lavrava o campo com um arado puxado por trez juntas de bois.

Assim se preparavam para o governo da rnonarchia os filhos de Dom Joao VI, rijos de musculos mas alheios a todas as questoes publicas, cheios de actividade mas estra- nhos a qualquer preoccupagao intellectual, supprindo sua palmar ignorancia por uma grande vivacidade natural e sua odiosa vulgaridade pelos rasgos de um cavalheirismo espon- taneo, de rac,a ou de indole, que fazia as vezes de contrapeso moral.

Com elles faziam coro os jovens rebentos das casas fidalgas transplantadas em 1808, criados nas tradicoes >da ociosidade mental e com o fetichismo da Lisboa devassa e desordeira (i), cujos palacios cheios do rumor dos depen- dentes tao pouco se pareciam com as quintas mais tranquillas na sua exhuberancia tropical dos arrabaldes fluminenses, onde por fim se aninhara muita gente principal da corte, acompa- nhando os Inglezes que primeiro invadiram os suburbios a cata de residencias frescas e agradaveis.

Eram na verdade estrangeiros que occupavam os melho- res pontos da praia do Flamengo, onde residiram os minis- tros Balk-Poleff e Thornton, de Catumby, onde foi viver n um alto o ministro Flemming, e de Botafogo, onde sobre- tudo se destacava a elegante vivenda do negoeiante Harrison.

��(1) "Os fidalgos e cs que aqui constituem ,as classes mais altas da sociedade, acliam-se inifinitamente ,aquem das classes oorresiponden- tes nos principaes paizes da Europa, tanto no conhecimento como na pratica da vida civilizada. Os pvazeros e requintes do intercurso so cial igualmente Ihes sao estranlios ; ciosos dos estrangeiros, sua atti tude para com elles nao e caracteriv^ada por aquella attengao e hospi- talidade tao conspicuas n outras nagoes, onde prevalece o cultivo de um systema liberal de sociedade." (Henderson, ol. cit.)

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