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CAPITULO V
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CAPITULO V


As atribulações e ambições de Dona Izabel Maria


Logo que El-Rei expirou, no primeiro accesso da sua dor, ou pelo menos na primeira emoção, pois que o bondoso Dom João VI foi afinal defuncto sem choro, a infanta Izabel Maria fallou afogueada em escrever para Vienna ao mano Miguel para que voltasse sem tardança. Era seu mais vivo desejo vel-o ao pé de si, sem mesmo ter que lhe passar aquelle tão arduo encargo que as circumstancias faziam pesar sobre a sua fraqueza. O embaixador da Grã Bretanha e o encarregado de negocios d'Austria, n'este ponto de accordo, mostraram a Porto Santo quanto a execução d'esse pensamento encerrava de arriscado para o paiz e até de desagradavel para o banido, o qual se acharia na sua patria e na côrte sem uma situação definida, ou antes n'uma posição falsa, pois que a questão da successão não fora ainda regulada com os problemas annexos. Porto Santo abundou nas mesmas idéas[1] e apressou-se em expedir o assentimento que justamente Metternich solicitara para que Dom Miguel, virtualmente um prisioneiro d'Estado, pudesse emprehender n'essa primavera uma digressão pela Austria e pela Bohemia[2].

Ao mesmo tempo o ministro dos negocios estrangeiros da regencia escrevia a Villa Secca, ministro de Portugal em Vienna, no sentido de obstar ao regresso do infante. «O governo que acabava de estabelecer-se não tinha ordens que dar a S. A. Real, mas fiava-se no seu bom discernimento, aventando se não seria infinitamente mais prudente esperar até estar certo da sua verdadeira posição do que se precipitar para Lisboa quando tudo ainda ahi se achava tão embrulhado». Seus interesses parti-

  1. Despacho de A' Court a Caming de 14 de Março de 1826. B. R. O., F. O.
  2. Despacho de A Court a Canning de 16 de Março de 1826, B. R. O., F. O.