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CAPITULO IX
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CAPITULO IX


O papel da Inglaterra


Discutiu-se então e continúa a discutir-se se a Inglaterra collaborou no golpe d'Estado constitucional de Dom Pedro. Para começar — é licito perguntar se o Imperador estaria de coração com a politica britannica ou se entrava nas suas vistas somente porque n'isso achava seu interesse. A Santa Alliança considerava o governo britannico cumplice do brazileiro, instigador mesmo do attentado contra os principios d'aquella liga, mas ha circumstancias a examinar em redor do ponto em debate.

Antes da sua partida de Lisboa para o Rio de Janeiro, a tratar do reconhecimento do Imperio, Sir Charles Stuart communicara para Londres que o ministro dos negocios estrangeiros de Dom João VI, que era Porto Santo, lhe assegurara que os agentes brazileiros em Londres e em Pariz urdiam grande intriga contra a intervenção ingleza que se estava exercendo nas negociações em andamento relativas á independencia: seu designio era prolongar a situação n'um terreno indefinido para entrarem em trato directo nos termos propostos por Gameiro (depois visconde de Itabayana) a Porto Santo na sua carta de 2 de Março de 1825[1]. Fallava Gameiro em utilizar seus plenos poderes, e os do general Brant (depois marquez de Barbacena), afim de levar o negocio a cabo exclusivamente com o governo portuguez e parecia preferir a um tratado um simples alvará real, segundo o modelo da abdicação do Imperador da Allemanha, de 6 d'Agosto de 1806. Brant apresentara a D. Miguel de Mello uma proposta analoga, apezar de ser ou dizer-se um amigo dedicado da Inglaterra, cuja intervenção se buscava assim afastar, de accordo com as insinuações da França, que

  1. Despacho a Canning de 30 d'Abril de 1825, B. R. O., F. O.