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DOM PEDRO E DOM MIGUEL

se obstinava a embaraçar uma solução favoravel ao prestigio britannico.

Do Rio de Janeiro escrevia o enviado inglez[1] que Dom Pedro nomeara plenipotenciarios para a elaboração do tratado as personagens politicas mais hostis á Grã Bretanha — Luiz de Carvalho e Mello (visconde da Cachoeira), um incapaz, dizia elle, meio maluco, e os marquezes de Paranaguá e de Santo Amaro, francezes até á medulla, os restos da facção creada por Araujo (conde da Barca) em opposição aos Souza Coutinho (Linhares e Funchal) e aos interesses britannicos.

Barbacena era inglez por proposito, e este calculo o levava a defender — sempre como dizia Sir Charles Stuart, ou pelo menos frequentemente — a politica de Londres. Desejava muito ir para Lisboa de embaixador e, ao que Sir Charles informava o Foreign Office alguns mezes depois[2], estava muito descontente com a demora, parecendo exhausto de paciencia para aguentar as raivas do Imperador. Barbacena acabara mesmo por dizer mui claramente a seu amo «que devia mudar de modos, afim de conservar a compostura que por toda a parte o soberano costumava testemunhar aos seus conselheiros confidenciaes ».

Pelo que conta Sir Charles Stuart foi elle proprio quem persuadiu o Imperador, o qual tivera no emtanto a primeira idéa a respeito, de outorgar a Carta de preferencia a convocar os Estados do Reino para submetter-lhes a solução constitucional, que não deixava de assustar o embaixador de S. M. Britannica. Dom Pedro tomou logo a iniciativa n'uma das suas bruscas resoluções; mas, apavorado deante da perspectiva das consequencias do seu parecer, passou Sir Charles a desaconselhar a outorga e a recommendar o appello ás Côrtes como o melhor meio de se certificar da opinião da maioria da nação.

Canning pelo que vimos adoptou o parecer contrario, se bem que repudiando todo designio de intervenção disfarçada em protecção. «A tarefa muito difficil — escrevia elle[3] — que a necessidade mais do que a vontade impoz á Inglaterra, é de guiar Portugal a salvamento atravez das complicações em que o collocaram os actos do seu legitimo (undoubted) soberano ». N'um despacho anterior[4] justificava semelhante missão: «Os acontecimentos de uma serie de annos e as obrigações de

  1. Despacho de Sir Charles Stuart a Canning de 20 d'Agosto de 1825. B. R. O., F. O.
  2. Despacho de 22 d'Abril de 1826, B. R. O., F. O.
  3. Despacho a Sir William A' Court de 19 d'Agosto de 1826, B. R. O., F. O.
  4. De 30 d'agosto de 1826, B. R. O., F. O.