Página:Echos de Pariz (1905).pdf/120

Wikisource, a biblioteca livre

deixasse escapar, em tumulto e sem escolha, todos os sentimentos que o agitam, e no meio das acclamações aos seus amigos lançasse, aqui e além, alguma grossa injuria aos seus velhos inimigos. Receios infundados, esperanças indiscretas! Pariz está mostrando a prudencia de um diplomata encanecido na carreira — e os proprios garotos se comportam como Metternichs.

Nunca de certo, como hoje, Pariz pensou tanto na Allemanha; e no fundo, todas estas bandeiras se desfraldam, e todas estas luminarias se accendem, e todo este champagne estala, tanto pela Russia como contra a Allemanha. Mas esse pensamento fica cautelosamente aferrolhado nos mais fundos recantos d’alma — e o que transborda é apenas o clamor do enthusiasmo e da fraternidade. É como se não existisse Allemanha, nem a ingrata Italia, nem Triplices Allianças. Ha só dous povos, o francez e o russo — e, como elles se abraçam, o mundo todo se converte n’um amavel santuario de paz.

Oito dias são passados desde que os russos estonteiam Pariz. A cidade toda está na rua. O tempo vae quente e abafadiço. Por toda a parte a cerveja e o vinho transbordam, como n’umas colossaes bodas de Gamacho. E todavia, em nenhum bairro, mesmo nos mais ruidosos e excitaveis, houve ainda um grito, uma pilheria n’um café, uma allusão, que desmanchasse a harmonia pacifica do soberbo festival.

Isto prova, uma vez mais, que Pariz não é como se pensa a cidade que entre todas se embriaga e se de-