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doçura. Matthew Arnold, o mais fino critico que tem tido a Inglaterra, sustentou sempre que estas duas inapreciaveis qualidades faltam inteiramente ao inglez. Era de certo uma generalisação excessiva, que provinha d’esse delicado espirito se ter nutrido e enlevado demasiadamente na litteratura franceza do seculo XVIII. Mas é certo que, pelo menos, a polidez e a doçura, em Inglaterra, faltam á populaça. Em França, nem a essa faltam.


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N’estas festas russas, com effeito, a cousa para mim mais interessante e tocante tem sido a multidão. Ha dias que dous milhões de parizienses vivem em permanencia apinhados em tres ruas: o boulevard dos Italianos, a Avenida da Opera e a rua da Paz. A classica sardinha na sua classica lata, um maço de cigarros densamente apertado, grãos de café dentro do sacco pançudo que quasi estoura — são frouxas imagens materiaes para exprimir esta massa compacta de creaturas de Deus, que se move com a espessura e lentidão d’um metal mal fundido. É a innumeravel multidão do tempo de Boulanger, o derradeiro creador de multidões. Mas não ha agora a vivacidade, a vibração petulante e batalhadora d’esses dias de cesarismo. Esta multidão é enternecida e grave. É sobretudo doce. Não ha uma brutalidade, uma impaciencia, um empurrão. As mulheres vieram confiadamente trazendo filhinhos