Página:Echos de Pariz (1905).pdf/133

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elle! Não vá outro ser preso, roubar-lhe alli deante do povo, deante de todas aquellas mulheres, a gloria do seu feito anarchista! Atravez do terror, da confusão, podia fugir. Mas quê! perder todo o prestigio que lhe cabe pela sua façanha? Não! Por isso bate no peito, chama os gendarmes, brada: Fui eu! Fui eu! E quando o prendem, vae pelas ruas, já de mãos amarradas, clamando ainda com orgulho para as janellas cheias de gente que fôra elle, só elle!

Ao mesmo tempo, por outra rua, vae o velho marechal, em braços, meio desmaiado, continuando a sorrir e a affirmar que no és nada, que no és nada!

O quadro é admiravelmente hespanhol — e só póde ser hespanhol.


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O hespanhol é heroicamente bravo; mas outras raças, o inglez, o russo, o francez, possuem esse heroismo especial que consiste em soltar um grito, florear a espada, e correr soberbamente para a morte. Onde o hespanhol se mostra unico, é no desprendimento com que sacrifica todos os interesses, desde que se trate da honra da Hespanha, ou do que elle pensa momentaneamente ser a honra da Hespanha. Ahi invariavelmente reapparece o sublime D. Quixote.

E tanto mais heroicamente que ao hespanhol não faltam o raciocinio, e a prudencia, e o claro sentimento da realidade, e o amor dos bens accumulados, e mes-