Página:Echos de Pariz (1905).pdf/135

Wikisource, a biblioteca livre

e que cada novo romancista continua Cervantes, e cada pintor sevilhano ressuscita Murillo. Mas além d’este habito de se sentir grande, natural de resto n’uma raça que chegou a dominar o mundo e que deu a humanidade algumas das suas almas mais fortes e dos seus genios mais profundos, ha ainda no hespanhol um amor prodigioso pela terra de Hespanha, pelo torrão que os seus pés calcam pelo monte e pela planicie, pelas cidades ou pelas aldeias que ahi se erguem, por cada tufo de cardo que brota entre cada rocha. O inglez, outro grande patriota, ama ardentemente e exclusivamente a civilisação que creou na sua ilha, e as suas instituições, e os seus costumes: — mas não tem nenhum enthusiasmo pela ilha, ella propria, que abandona mesmo com facilidade e prazer. E comtanto que leve para a Italia, ou para outro clima doce, a sua cosinha, os seus sports, os seus jornaes, as suas distincções sociaes e o seu club, prefere sempre a suavidade d’um ar luminoso aos asperos nevoeiros do seu sombrio Norte. Por isso emigra, e vae fundando em solos mais amenos que o seu uma correnteza infinita de pequenas Inglaterras. Para o inglez a patria é uma entidade social e moral. Para o hespanhol a patria é o bocado de terra que os seus olhos abrangem, e que elle ama como se ama uma mulher, com um amor ciumento e carnal. Esse amor cria n’elle naturalmente a illusão: — e o manchego e o navarro, que habitam duas das mais feias e tristes regiões da terra, não as trocariam pelo Paraizo, porque nada lhes parece realmente tão for-