Página:Echos de Pariz (1905).pdf/141

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E em que momento ella vem! Quando a Hespanha, muito pacientemente, com um esforço em que tambem havia heroismo, estava reconstruindo, dia a dia, migalha a migalha, as suas finanças arrasadas. A guerra é a ruina — porque as tribus do Riff podem pôr em armas sessenta mil homens aguerridos, de incomparavel bravura, com espingardas Remington, e tendo por couto as suas serranias inaccessiveis. Para vencer esta formidavel guerrilha — é necessario uma expedição pelo menos de trinta mil homens, que têm de ser alimentados de Hespanha, porque no Riff só ha areaes. São as finanças hespanholas desorganisadas por infinitos annos. É ainda o perigo de complicações europêas, porque a Hespanha será forçada a penetrar no territorio de Marrocos (os mouros do Riff são subditos do sultão de Marrocos), e ahi encontra a opposição da Inglaterra, da França, da Italia, que têm todas tres pretensões, por motivos de fronteiras coloniaes, ou por motivos de dominação estrategica no Mediterraneo, a esse vasto e rico sultanato. A questão de Marrocos substituiu hoje na Europa, pelos seus perigos, a antiga e classica questão do Oriente.

Lord Salisbury affirmava ainda ha pouco que, se a paz do mundo viesse a ser quebrada, seria de certo por causa d’esse terrivel Marrocos. E a Inglaterra já tem em Gibraltar, deante das costas da Africa, á cautela, uma grossa esquadra de couraçados. Assim a Hespanha arrasa as suas finanças, e arrisca uma medonha guerra européa. Mas que lhe importa? Fôram mortos