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Esta confiança dos politicos em si proprios terminava por se communicar ao publico. E todos nós, desde que Fulano era eleito deputado, ficavamos certos de que, tocado de uma luz divina, da lingua de fogo, como os apostolos, elle poderia, senão fallar todos os idiomas, pelo menos dirigir, sob todas as fórmas, os grandes serviços publicos da sua terra, e indifferentemente, segundo as circumstancias, salvar as finanças ou commandar frotas.

A estranha confissão do snr. Barthou vem desmanchar esta confortavel confiança. O quê! Ha pois politicos que não conhecem, nem por estudos anteriores, nem por experiencia adquirida, os negocios coloniaes? Diabo! como tem sido então o mundo, até agora, governado? Será possivel que tenhamos tido por ministros e governantes outros Barthous, que, ao contrario d’este, cuidadosamente esconderam a sua incompetencia?

Não sei. Mas certamente a declaração do snr. Barthou, singularmente honrosa para elle, é altamente nociva para a sua classe. Cria uma larga suspeita entre nós outros, os governados.

Se ha um politico a quem o Espirito Santo não concedeu o dom do universal saber — é bem possivel que outros muitos tenham encontrado da parte do Espirito Santo a mesma resistencia em lhes outorgar o dom divino. E já não podemos ver um bacharel subindo de cabeça alta e luneta faiscante os classicos degráos do poder, sem murmurar dentro de nós mes-