Página:Echos de Pariz (1905).pdf/16

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O desejo mais natural do homem é saber o que vae no seu bairro e em Pariz.

Que importa o que succede na Asia Central, onde os russos se batem, ou na Australia onde ha crise ministerial? O que se quer saber é o que fez hontem Gambetta, ou o que dirá amanhã o professor Tyndall.

E com razão: a Asia Central e a Australia não ensinam nada, e Pariz e Londres ensinam tudo.

Tendo assim sacrificado sufficientemente á regra, que quer que todo o escriptor da raça latina nunca enuncie a sua ideia ou conte o seu facto sem se fazer preceder de phrases genéricas armadas em portico — creio que devo começar esta chronica fallando hoje de Pariz, capital dos povos e patria genuina de Mr. Prudhomme...


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O acontecimento saliente e commentado d’estes ultimos dias é a manifestação do dia 23 de maio. Lembram-se que ha nove annos, n’essa data, na semana sanguinolenta da derrota da Communa, os regimentos de Versailles, invadindo Pariz, n’uma demencia de represalias, fizeram uma exterminação á antiga, fuzilando sem discernimento pelos pateos dos quarteis, entre os tumulos dos cemiterios, sob o portico das egrejas, todo o sêr vivo que era surprehendido com as mãos negras de polvora, e um calôr de batalha na face.

Trinta e cinco mil pessoas fôram aniquiladas n’esta