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to! As outras bombas só pretenderam destruir predios ricos, como sendo as fórmas mais materialmente palpaveis do capitalismo; ou então burguezes abastados, no acto de gosarem um luxo que offende especialmente a miseria — o da Opera. A bomba de Vaillant porém estoura com imprevista audacia sobre o «seio augusto da Representação Nacional». N’uma republica parlamentar, o parlamento é o rei. Portanto Vaillant verdadeiramente commetteu um regicidio. E não ha crime que impressione mais do que o regicidio, porque n’uma sociedade onde se não eliminou inteiramente a ideia de que o chefe é pae, elle participa da natureza do parricidio.

De certo sabem, pelo telegrapho, pelos jornaes, a historia do feito. No Palais-Bourbon, estando a camara em sessão e um deputado na tribuna, Vaillant atira a sua bomba, composta de pregos e polvora verde, dentro de uma caixa de lata, que bale n’uma columna, estala no ar antes de cahir. Densa fumarada, gritos, terror, tumulto — e immediamente, tambem, entre os deputados, aquella serenidade corajosa, ainda que um pouco affectada, que é uma tradição das assembleias francesas, acostumadas desde 1789 a ser invadidas, assaltadas e mesmo espingardeadas pelas plebes em revolta. Todas as portas do Palais-Bourbon se fecham — e as salas das commissões são convertidas em ambulancias, onde, sobre colchões trazidos á pressa de um quartel, os feridos recebem curativos summarios. Entre esses feridos ha um, com pregos espetados