nas pernas, que hesita ao dar o seu nome e o seu endereço, e que desperta portanto o faro embotado da policia. É conduzido ao hospital por dous agentes que se estabelecem ao lado da cama, e começam com elle, amigavelmente, uma conversa habil sobre anarchistas e fabricação de bombas. O ferido, por um d’esses impulsos de vaidade bem franceza, bem humana (e que Balzac se deleitaria em notar) alardeia logo o seu conhecimento intimo com os chefes do anarchismo e com os processos empregados na composição das bombas. Os outros encolhem os hombros, negam a sua competencia. E o homem irritado com a contradição termina por gritar:
— Pois bem, fui eu! Fui eu que deitei a bomba! Viva a anarchia! E agora não me massem mais, que quero dormir.
Era Vaillant. E sabem, de certo, tambem que foi condemnado á morte — por um jury que se mostrou feroz, para que em Pariz, e sobretudo no seu bairro, não o suppuzessem medroso. O que é ainda bem francez e bem humano.
A bomba de Vaillant e a sentença que condemna Vaillant á morte, sendo dous actos no fundo identicos, porque ambos procuram aniquilar um principio pela violencia — são tambem dous actos absolutamente inuteis.