Página:Echos de Pariz (1905).pdf/164

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do? O odio insaciavel dos egoistas, a desconfiança dos proprios humanitarios. E teria ainda logrado crear, para sua confusão e maior humilhação, ao lado da classe já desagradavel dos martyres da liberdade, a classe, ainda mais desagradavel, dos martyres da auctoridade. De sorte que estas bombas arremessadas contra a sociedade, mesmo quando tivessem meios destructivos que são hoje ainda inconseguiveis com a nossa limitada sciencia, nunca passariam, relativamente á força e estabilidade d’essa sociedade, de actos impotentes e tão inuteis como bolhas de sabão lançadas contra uma muralha.

A isto replicam os anarchistas: — «Assim é, mas nós não pretendemos destruir, desejamos só aterrar!» Raciocinio vão. O que significa, n’este caso, aterrar? Significa provar, pela experiencia d’uma pequena destruição, a possibilidade de uma destruição immensa? Significa inspirar á burguezia, demolindo-lhe um predio e matando-lhe tres membros, o temor de que lhe possa ser arrasado um bairro e desfeitos em estilhas tres mil dos seus representantes? Mas está comprovado que, por maiores que sejam essas devastações pela dynamite, mesmo quando subitamente por uma d’ellas pudesse desapparecer todo o poder executivo e todo o poder legislativo, os milhões de burguezes que governam e que conservariam intactos o seu exercito, o seu ouro, todas as suas forças, não consentiriam em abdicar de direitos que elles consideram como quasi divinos e os unicos capazes de manter ordem e segurança nos