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As perseguições, as execuções, em logar de diminuirem a seita, só lhe communicam uma vehemencia mais devota e portanto mais perigosa. E quando a sociedade mata os anarchistas — é a sociedade que fabrica as bombas.

A violencia não cura — e o anarchismo é uma doença. O anarchismo é uma exacerbação morbida do socialismo.

O germen e os desenvolvimentos d’esta doença não são difficeis de precisar. No antigo regimen, o proletariado, mantido em servidão dentro de uma organisação social muito forte, collocara sua esperança de felicidade, não já n’esta vida e elle via irremediavelmente votada á pena, mas a outra vida, para além da campa, como lh’o recommendava a Egreja, sua mãe e sua educadora, dando-lhe como garantia a promessa de Jesus que reservava para os pobres o reino do céo.

N’este nosso seculo porém o proletario, doutrinado pela classe media que se tornara desde 1789, em substituição á Egreja, a sua nova educadora, começou a acreditar que, sendo homem, e tendo portanto todos os direitos do homem, poderia realisar a sua felicidade ainda em vida, n’este mundo, e sob a garantia de leis. Para isso, segundo lhe affirmava a classe media, bastava que ele demolisse o velho edificio social, a monarchia e as instituições monarchicas, que constituiam o unico obstaculo á «felicidade das massas». O proletario, convencido, sahiu em tamancos dos seus vehos covis, e começou a destruir. Fez tres revoluções,