ergueu barricadas innumeraveis, exilou reis, incendiou castellos, aboliu privilegios — e expeliu em gritos, e com as armas na mão, todas as formas e liberdades politicas que a classe media lhe indicava ao ouvido e que deveriam realisar essa felicidade terrestre tão largamente annunciada. Emfim, ao cabo de setenta annos de luctas, o povo, tendo arrasado o velho edificio da monarchia, construiu o novo edificio da republica, cheio dos confortos e invenções novas da civilisação politica, a liberdade de reunião, de associação, de imprensa, e todas as outras, entre as quaes, bem agasalhado e bem provido, senhor seu, elle começaria emfim a conhecer a ventura de viver. Assim soberbamente installado, esperou. Os annos passaram. A felicidade annunciada não veio. Apesar de todos aquelles confortos politicos (liberdade d’isto, liberdade d’aquillo) continuava, como no antigo edificio feudal, a ter fome e a ter frio. Quando chegava a neve, o direito de voto não o aquecia — e á hora de jantar, a liberdade de imprensa não lhe punha carne na panella vazia. Pelo contrario, reconheceu que, apesar do nome de «soberano» que lhe tinham dado, continuava na realidade a ser servo — e que o seu novo amo, o burguez capitalista, era muito mais exigente e duro que o antigo amo que elle guilhotinara, o fidalgo perdulario. Todas as suas barricadas, pois, e todas as suas revoluções tinham sido feitas em proveito da classe-media, que lhe mettera as armas na mão, o impellira ao assalto do velho regimen! O seu sangrento esforço só servira para entregar o poder á classe mé-
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