Página:Echos de Pariz (1905).pdf/17

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S. Barthelemy conservadora, n’esta hecatombe da plebe, offerecida em sacrificio á ordem com o delirio com que o rei de Dahomey decapita tribus inteiras em honra do idolo Gri-gri, ou os carthaginezes immolavam uma mocidade, toda uma primavera sagrada, para applacar o mais cruel dos Baals, o negro e flammejante Moloch.

Onde fôram sepultados tantos montões de cadaveres?... Apenas se sabe que parte foi arremessada á valla commum de Père-Lachaise.

Os annos passaram, e os vencidos d’então são hoje cidadãos formidaveis, armados não da espingarda revolucionaria, mas de um legal boletim de voto, e que, em logar de erguer barricadas nas ruas, fazem deputados socialistas nas eleições.

No dia 23 de maio, pois, anniversario do exterminio dos seus, preparavam-se elles para ir atravez das ruas de Pariz, n’uma vasta procissão funeraria, com coroas de perpetuas na mão, visitar essa lugubre valla onde apodrecem os seus mortos.

O governo do snr. Grevy, porém, inquietou-se com este ceremonial, e, ou promettendo concessões ao velho mundo communard a troco da desistencia d’esta pompa funebre (tão parecida com uma commemoração triumphal) ou ameaçando mandar carregar 20.000 homens contra o prestito e fazer assim recahir sobre os chefes da manifestação a responsabilidade de um conflicto sangrento — conseguiu que n’esse dia a massa communista ficasse chorando os seus mortos, no silencio