Página:Echos de Pariz (1905).pdf/175

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mais egoista e espessa da burguezia, alguns homens de estado a quem por profissão são vedadas a sensibilidade e a phantasia, todas as classes mundanas, intellectuaes, artisticas, ociosas, se estão abandonando com voluptuosidade ás emoções novas do anarchismo. Desde já existe, muito contagioso, o dillettantismo anarchista. Duquezas moças, cobertas de diamantes, condemnam a má organisação da sociedade, comendo codornizes truffadas em pratos de Sèvres. Nos cenaculos decadistas e symbolistas, a destruição das instituições pela dynamite apparece como uma catastrophe cheia de grandeza, de uma poesia aspera e rara, e quasi necessaria para que o seculo finde com originalidade. E nada caracterisa mais estes estados d’espirito, onde alguma sinceridade se mistura a muita affectação, do que a phrase já historica do poeta Tailhade. Ao saber, em uma cervejaria litteraria, que Vaillant acabava de atirar a sua bomba na camara dos deputados, este symbolista exclama languidamente e quasi era em extase:

— Já vae pois desabando o velho mundo!... O gesto de Vaillant é bello!

«O gesto é bello!». Todo Pariz repetiu, com mal escondida admiração, esta phrase que revelava aos profanos a belleza esthetica do crime anarchista. «O gesto é bello!». E muito honesto moço, incapaz de pisar voluntariamente o pé do seu semelhante, reconheceu, sentiu a belleza do gesto de Vaillant — a belleza d’aquelle braço magro que se ergue lentamente,