Página:Echos de Pariz (1905).pdf/177

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mente e clamorosamente contado ao mundo com um calor em que a propria indignação tinha não sei que de laudativa. De sorte que hoje em Pariz para se ter uma verdadeira celebridade, é melhor atirar uma bomba a qualquer corpo do Estado, do que escrever a Lenda dos Seculos.

Assim fanaticamente convencido da justiça superior da sua ideia e tomado mais fanaticamente desesperado pelas brutaes leis de excepção que contra elle decreta o Estado; cercado das sympathias dos humanitarios; declarado estheticamente bello pelos poetas; apreciado como uma novidade picante pelo dilettantismo mundano e magnificamente popularisado pela imprensa — como não ha-de o anarchismo alastrar n’essa proporção temerosa de um para mil?

Para que não crescesse, como planta bem regada, e ao contrario se estiolasse, seria necessario que elle proprio se persuadisse, se não já da falsidade da sua ideia, ao menos da inutilidade das suas praticas; que o Estado não suscitasse contra elle leis de excepção, odiosas e intoleraveis ao espirito de equidade; que os humanitarios o reprovassem pela sua indiscriminada condemnação de innocentes e culpados; que os poetas e os artistas descobrissem que o gesto é meramente bestial; que o dilettantismo se desinteressasse d’elle como de um banal partido politico; e que a imprensa o envolvesse em um silencio regelador.

Então sim! Talvez eliminadas estas condições que a favorecem, a febre que produz o anarchismo se cal-