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cavam. Depois, quando se observou que estas violencias da agua e do lume occorriam tão regularmente como as estações, e que cada inverno os valles se submergiam, e cada verão ardiam as choças de madeira e colmo, não houve mais coração que palpitasse de pavor mystico. Mesmo acreditando sempre que, através de taes desastres, se manifestava o descontentamento, divino, foi á auctoridade civil e não já á casta sacerdotal que se pediram medidas preventivas ou salvadoras. E nem se lhe conferiram poderes novos e excepcionaes, na certeza que, para conter a agua e apagar o fogo, bastaria apenas alguma vigilancia e saber technico da administração urbana e rural.

Com effeito ha já alguns milhares de annos que os rios devastam searas e o lume devora predios, sem que por isso a Egreja ou o Estado se commova ou trema pela sua estabilidade.

É exactamente o que vae succedendo com os anarchistas. Ás primeiras bombas houve um tumultuoso terror, como perante uma estranha e demoniaca demencia que ameaçava a velha estructura social. Cada explosão foi motivo para que se promulgassem leis de excepção, para que se reforçasse temerosamente o braço penal dos governos, para que os philosophos formulassem complicadas receitas sociologicas, e mesmo para que certos espiritos mais impressionaveis suspirassem pela intervenção divina de um Messias como unico capaz de pacificar os homens. Depois, quando se ouviu cada semana estalar uma bomba, e sem destruir mais