Página:Echos de Pariz (1905).pdf/188

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çadamente, não logrei ainda um momento para absorver a theoria do grande bispo sobre a serie dos tempos, das religiões e dos imperios. Quando muito conheço a pagina classica, tão magestosa e rica, em que elle pinta a omnipotencia de Augusto e a belleza e recolhimento da paz romana, nas vesperas de nascer Jesus. É pouco. Mas se tão pouco conheço Bossuet, não me deve ser censurado o ignorar quasi inteiramente o seu apologista.

Pelo que tenho ouvido, porém, parece-me que o snr. Brunetière está para as lettras como um botanico está para as flôres. Percorrendo os canteiros de um jardim, o botanico conhece cada flôr, e o seu nome latino, e o numero das suas petalas, e todas as suas variedades, e o largo genero em que se filia, e a zona e o terreno que melhor convém ao seu desenvolvimento, etc., etc... Ha só na flôr uma cousa sobre que o juizo do velho botanico sempre claudica, ou porque a desdenhe ou porque a não sinta — e é a belleza especial da flôr, que está talvez na côr, nas dobras das folhas, na maneira porque se mantém na haste, em mil particularidades indefinidas, n’esse não sei que que lhe habita as fórmas e que faz com que deante d’ella paremos, e a contemplemos, e a appeteçamos, e a colhamos. O snr. Brunetière é este sapiente botanico entre flôres. Que lhe dêem um poeta, e elle immediatamente o classificará, lhe collocará um rotulo nas costas, mostrará o genero que cultivou, desfiará as qualidades que revelou n’esse genero, exporá as influen-