Página:Echos de Pariz (1905).pdf/189

Wikisource, a biblioteca livre

cias de raça, e de meio, e de momento historico que concorreram para o desenvolvimento d’essas qualidades, etc., etc. Será superiormente erudito — e só lhe faltará o sentir, pelo gosto, esse não sei que de intimo que constitue a belleza ou a grandeza do poeta. O snr. Brunetière é um botanico das lettras. E de resto esta comparação não lhe poderia desagradar, porque elle é um dos que recentemente, ao que parece, mais se têm applicado a introduzir nas sciencias moraes o methodo das sciencias naturaes, e a considerar as obras humanas, e sobretudo as obras de litteratura e de arte, como productos de que a critica e a esthetica só têm a verificar os caracteres e a esmiuçar as causas. Isto desde logo o torna para mim um critico extremamente respeitavel e pouco sympathico. Ignorante como sou, eu gosto de um critico que me possa explicar as causas e os caracteres da obra de Musset, mas que sinta palpitar o coração quando lê as Noites e a Carta a Lamartine, ou porque se lhe communicou a emoção do ardente lyrico, ou porque se enlevou na contemplação da belleza realisada. Sem a faculdade emotiva e o gosto, o critico pertence áquella especie de esmiuçadores de causas e arrumadores de generos, que Carlisle chamava os resequidos.

Além d’isso, segundo ouço, o snr. Brunetière é um rispido, um inflexivel, todo elle dogmatismo e intolerancia, sem uma gotta, para o amollecer e lubrificar, d’aquelle leite da humana bondade de que falla outro inglez, o muito adoravel Dickens. E esta outra quali-