Página:Echos de Pariz (1905).pdf/194

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— senão receiasse entrar em um caminho escorregadio, onde me arriscaria a esbarrar com os nossos queridos collegas do Paiz e do Tempo, armados da sua ferula.

Lembrarei apenas que, ainda não ha uma semana, o articulista encarregado no Figaro de criticar cada dia os acontecimentos politicos da Europa, e que, portanto, deve conhecer a Europa, estudando a situação economica de Portugal, affirmava, e com uma soberba certeza, que «em Lisboa os filhos das mais illustres familias da aristocracia se empregavam como carregadores de alfandega, e ao fim de cada mez mandavam receber as soldadas pelos seus lacaios!» Estes herdeiros das grandes casas de Portugal, carregando pipas de azeite e fardos de café no caes da alfandega, e conservando todavia creados de farda para lhes ir receber o salario — fórmam um quadro simplesmente portentoso. Pois quem o traça é o Figaro, um dos mais considerados jornaes de Pariz, e um dos que têm um pessoal mais largo e mais remunerado. E Lisboa todavia está a dois dias e meio de Pariz! Mas Londres dista apenas sete horas e meia de Pariz — e constantemente os jornaes francezes escrevem sobre a Inglaterra, e as cousas inglezas, com a mesma segura sciencia com que o Figaro descrevia as occupações da nobreza de Portugal.

Ora, dizia não sei que sentencioso critico hespanhol que, quando se lê constantemente Seneca, ganham-se os habitos de espirito de Seneca. E quando se tem como usual alimento do espirito o Figaro e consortes